CIRCUITAO DE CACHUS NA SERRA DE PARANAPIACABA
Confesso q titubeei ao aceitar o convite p/ trilhar por Paranapiacaba, + precisamente um amplo circuitão nos arredores de Rio Gde da Serra conhecido como 'Trilha das 7 Cachus' (ou 'do Lamaçal' ou 'da Ferradura'). Desde q fomos assaltados - num pitoresco episodio relatado à exaustão em verso e prosa* - relutava em voltar p/ aquelas bandas não apenas pelo mero desencanto c/ o fato, mas por questões de birra pura e simples. Contudo, pela proximidade à urbe, aparente segurança e pela exuberância de mata atlântica q cerca suas inúmeras picadas levando a nascentes, mirantes, poços e cachus, foi a oportunidade de dar 'braço a torcer' e retornar àquela região q, repleta de panoramas espetaculares, corta o estado mais poluído do pais.
CHEGANDO EM RIO GDE DA SERRA
Assim q encontrei a Leila no metrô Brás tomamos o trem das 7hrs, sentido Rio Gde da Serra. Incrível é como o cenário das janelas muda do tom cinza predominante do centrao de sp p/ ares + interioranos, porem ainda de cores mortas, num piscar de olhos! Saltamos em Rio Gde da Serra 40min depois c/ a promessas de bom tempo iluminado aquela manha de domingo, e esperamos o resto do povo na padoca em frente à estação enqto tomamos nosso desjejum afim de espantar o sono. Lentamente a padoca lotou c/ gente mochilada, entre escoteiros, 'ripongas rastas', 'rambos' e td sorte de trilheiros de fds rumando pra Paranapiacaba, inclusive uma galera dos Xuxu's c/ quem tivemos breve prosa. Mas nossa galera so chegou mesmo 1hr depois, mas isso não significou necessariamente partir, o q so aconteceu após o Walter, Elisa,
Na seqüência, rumamos p/ pto de bus na rua do lado, q p/ nossa surpresa estava lotado de td aquela galera q passara pelo 'point' anterior, recebendo panfletos ou apenas ouvindo os 'causos' do jurássico 'Seu Caneco', tiozinho q é figurinha carimbada da regiao. Espremendo td mundo ate não poder +, o coletivo '924 Sto André-Paranapiacaba' conseguiu partir as 9:35 rumo à famosa vila inglesa no alto da serra. Nossa preocupação em descer diluiu-se qdo o busão desovou a primeira leva de moleques na entrada dos etilenodutos da Petroquímica União, no km 43, logo após a ind. Solvay. Mas a folga no coletivo não durou muito pq 2km depois era nossa vez de descer, as 9:50, em frente das fumegantes chaminés da ind. Eletro-Cloro, à esquerda do asfalto.
RUMO A CACHU DA FUMAÇA
Alonga aqui e estica ali, voltamos uns 200m no asfalto ate adentrar numa larga picada indo p/ sul, a direita da estrada, começo oficial da trilha. Sendo boa parte dela exposta e c/ forte sol na cara, a caminhada seria plenamente desimpedida não fossem os charcos, brejos e lamaçais, obrigando aos + frufrus a contornarem-nos c/ receio de chafurdarem ate a alma de lama, num anagrama oportuno. Ao cruzar perpendicularmente c/ a 2ª linha de alta tensão, a larga picada se estreita e adentra no frescor da sombra de mata maior, p/ começar a descer na forma de uma vala erodida c/ alguma lama. 'Chap! Chap! Chap!' é o som recorrente deste inicio de trilha, q agora deixou a vala atrás e cruza um 1º riacho, as 10:50. C/ a mata se adensando mais e o terreno nivelar, agora acompanhamos um rio pela esquerda ate alcançar o 1º poção, onde paramos brevemente p/ beliscar algo e dar um tchibum, as 11:05. O local é cercado por uma prainha fluvial bem simpática e havia ate um casal acampado do lado, q nos garantiu q de uns anos pra cá a segurança tava bem melhor.
A picada continua obvia, com suaves sobe-desces e sempre acompanhando o rio, q corre placidamente à nossa direita, as vezes afastado porem bem audível. Num trecho há uma discreta saída pela esquerda q nos leva a um mirante, onde temos uma panorâmica fantástica de Cubatão, as 11:40, mas q é apenas parcialmente nítida por conta da bruma típica desta região da Serra do Mar. Voltando a pernada, tornamos a descer agora bem forte, ate começarmos a andar rente as margens do rio, ora de um lado ora do outro, pulando de pedra em pedra. Ao passar por uma gde cachu à nossa esquerda, o Cláudio (do T&B) aparece como passe de mágica p/ se juntar à trupe, ofegante.
Sempre rente ao rio, logo saímos da mata fechada p/ nos colocar à disposição dos caprichos do sol do meio-dia. Mas td bem, pq 20min depois o sinuoso rio nos levou aos mirantes do alto da imponente Cachu da Fumaça, já na beirada da serra e onde havia uma galera usufruindo de seus refrescantes poços. O local realmente é digno de nota. E o visual idem, mesmo ligeiramente anuviado: o rio despencava numa sucessão de quedas por paredões verticais em vários níveis, c/ poços em cada um deles; enqto ao redor picos se levantam cobertos de mato por td extensão da Serra do Meio e do Poço - espigões da majestosa Serra de Paranapiacaba - p/ depois tombarem abruptamente numa sucessão de escarpas menores ou gargantas rochosas sulcadas pelos rios e esfarelar e perder, na planície q compõe a baixada santista, 900m abaixo. Fotos foram tiradas à exaustão, claro, e um lanchinho básico veio à calhar aos trilheiros de plantão. Alguns até arriscaram cair na água gelada, mas quem não o fez saiu molhado de qq jeito. Cortesia do toró q caiu horas depois.
DESCENDO E SUBINDO O RIO
O relax tava muito bom, mas nossa jornada não parava ali. Por conta do nível de dificuldade e exposição q a trilha tomava a partir dali, apenas eu, o Felix e a Leila prosseguimos a empreitada. O resto ficaria + um tempo ali e retornaria exatamente pelo mesmo caminho. 'O caminho a partir de agora p/ vcs é pauleira total! Aposto 1 Coca q vcs não chegam antes da gente!',
Passado o 3º poção, a escalaminhada fica menos íngreme ate dar na confluência c/ o Rio Vermelho, q por sua vez cai numa sucessão de pequenas cachus do lado dele. Saltando de pedra em pedra logo caímos no encontro de outro rio pela esquerda, q nos brindou c/ uma das vistas + espetaculares do dia, diante do anfiteatro rochoso no qual estávamos: a nossa frente, o rio seguia vale abaixo num estreito canion q se afunilava cada vez +, culminando na Garganta do Diabo e Vale da Morte, poucos kms adiante; a nossa esquerda tínhamos um visu privilegiado de toda a cachu q tínhamos descido, emoldurado pelo verde sombrio da serra; e atrás nosso, vindo de uma pequena garganta rochosa c/ formato em 'V', víamos perfeitamente td o q teríamos q subir ate alcançar novamente o alto da serra, 400m acima.
A subida, por incrível q pareça, foi + fácil q o previsto. Galgando as pedras na base da escalaminhada, conquistamos lentamente os níveis q compunham esta sucessão de belas cachus e poços, ora subindo por uma margem do rio ora pela outra, conforme a dificuldade. Irônico era agora nos ver caindo na água ate a coxa s/ dó, qdo necessário, sendo q no inicio do dia fugíamos de prosaicas pocinhas feito diabos da cruz! Será q estávamos motivados pela possibilidade real de ganhar a Coca do
Pois bem, ao alcançar o alto da serra, o carreiro continuou em meio à mata, sempre bordejando o rio pela esquerda, ora afastado ora não, eventualmente tendo q atravessá-lo (s/ maiores dificuldades) p/ seguir na margem oposta. Neste trecho cruzamos c/ um grupo de jovens se divertindo 'de Tarzan' num poção do rio, assim com varias clareiras p/ pernoite. Assim, a picada atravessou o rio uma ultima vez p/ se enfiar na mata de vez e se afastar dele, no mesmo instante em q o aguaceiro deu trégua e o tempo ameaçou limpar mostrando brechas azuis em meio ao céu cinza. As 15:15 a picada atravessa uma precária ponte improvisada de toras sobre um córrego, sai da mata p/ campos + abertos e se alargando cada vez + em meio aos onipresentes lamaçais, p/ em seguida acompanhar as linhas de alta tensão p/ norte! Neste trecho alcançamos uma galera retornando (aquela q descera antes da gente, no busão), sinal q praticamente havíamos terminado a trilha. Surpresos c/ nossa performance, apressamos o passo e assim, após tomar a esquerda e a direita nos cruzamentos sgtes, as 15:45 caímos no asfalto (km 43), na entrada da Petroquímica União, onde varias placas amarelas pediam p/ não escavar por conta do etilenoduto enterrado.
NO PTO DO BUSAO E A VOLTA
Daqui bastou tomar à esquerda, pelo asfalto, q logo chegamos no pto de bus na frente da Solvay, no exato momento em q o aguaceiro voltou c/ força total. Como havia muita gente retornando de trilhas na região, o pto de bus logo ficou pequeno p/ td mundo naquele exíguo espaço retangular. Como se não bastasse, choveu torrencialmente c/ vento, obrigando a galera se espremer feito sardinha. 'Aperta p/ esquentar mais!', dizia algum felizardo q tava no meio. Entretanto, o golpe de misericórdia veio qdo, alem do vento, começou a chover pedras de granizo pelos lados! Eu, q tava tiritando numa das bordas daquele minúsculo cubículo, mesmo espremido ate não poder + já tava c/ as costas totalmente encharcadas e ainda por cima levava doloridas pedradas de gelo no corpo td, como se fosse alvo de algum lazarento c/ estilingue! 'Jorge, se vc sair da nossa frente vc apanha!', dizia o Felix e Leila, numa posição estratégica bem melhor à minha. Assim, torcíamos p/ busão passar logo pq tava td mundo, s/ exceção, batendo os dentes de frio. Foi uma situação, no mínimo, surreal mas mto engraçada.
Nossas preces foram ouvidas qdo o busão, as 16:15, passou recolhendo aquele bando de pinto-molhado. E assim, 15min depois, chegamos em Rio Gde da Serra onde esperamos o resto do pessoal (q ainda estava na trilha!) na padoca na frente da estação. Tentamos ligar no celular mas nada, daí nos resignamos simplesmente a aguardá-los, tomar alguma coisa quente e trocar de roupa. A galera só chegou as 17:40 p/ surpresa geral, já q não acreditaram q tivéssemos chegado ali bem antes deles. 'Ahh, vcs vieram correndo ou por teleporte, só pode!', disse o
Dessa forma, e após mais 2 baldeações, terminei chegando p/ acolhedor banho quente em casa somente as 21:30 hrs! Sujo, moído de sono e cansaço, a empreitada tinha valido mto a pena por dois motivos, mesmo c/ tds os perrengues q apenas serviram de tempero naquele dia delicioso. Alem de ajudar a expurgar definitivamente velhos fantasmas, seria s/ duvida o pontapé inicial p/ planejar novas incursões por esta bela região repleta de possibilidades p/ um final de semana qq. Uma região q, incrustada no coração da Serra do Mar, justifica c/ total propriedade o nome Paranapiacaba, q em tupi significa 'lugar onde se vê o mar', e q merece ser visitada. Com promessas de Coca ou não.
*PS. o relato do assalto, pra quem nao leu, ta aqui
http://www.mochileiros.com/viewtopic.php?t=16743
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