quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Vulcão Villarica - Chile



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01/02/2012

Fotos: https://plus.google.com/photos/108083852764703570533/albums/5803026101168082081


Subida ao Vulcão Villarica em Pucón, no Chile, com 2.743m de altitude!

Depois de ter passado quase o primeiro dia todo (30/01) em Pucón trancada dentro do hostel por causa da chuva incessante, resolvi agendar a subida ao Vulcão Villarica, que tinha sido o motivo principal da minha ida até lá! A previsão do tempo era muito boa pra dali dois dias!
Agendei, mas o “medinho” estava me rondando!! Rs... Olhava o vulcão de longe e ficava pensando se iria conseguir ir até o final... Não por nível de dificuldade, pq a subida ao Villarica é bem comercial, mas pelo desnível de 973 metros (quando não está ventando e é possível subir o primeiro trecho de teleférico)! Caso contrário seriam 1.443m de desnível desde a base!

No dia 31/01 à noite nos reunimos com o guia pra conversar e provar as botas. Eu tirei minhas dúvidas sobre o que aconteceria se eu desistisse no meio do caminho e ainda estava em cima do muro, mas como ele mesmo disse só eu poderia decidir! Pensei: “Seja o que Deus quiser! Se eu não conseguir ir ate o fim, acho que o que rolar já vai valer a pena!”. Mas na verdade eu não queria de jeito nenhum ter que parar antes de chegar no topo!!
Provei a bota que ele levou pra mim mas ficou apertada, então ele pediu para ver a minha e disse que eu poderia ir com ela! Beeeeeem melhor!!!

No outro dia, às 06:45 lá estávamos eu, o Tomas, o Guinter e o Tom (um alemão que estava no nosso hostel) esperando o guia para irmos até o Pq. Nacional Villarica, que fica a 12 km de Pucón. No dia anterior o tempo ainda não estava 100% e o pessoal que subiu não pôde usar o teleférico pq tinha muito vento, então eu fui torcendo pra estar funcionando naquele dia, pra eliminar 470m de desnível!! E estava!! Ufa!! Praticamente não tinha vento na base do vulcão na hora que chegamos!! :))

Estávamos em um grupo de 13 pessoas e tínhamos 03 guias, cumprindo a regra do parque de ter um guia para cada 06 pessoas! Nos entregaram a mochila com todo o equipamento para a subida (piolet, calça, polaina, blusa e luvas impermeáveis, capacete e uma espécie de acessório para fazer o “ski-bunda”). Os crampons eu não vi na mochila (e acho que não estavam mesmo...) e durante a subida os guias falaram que não seria necessário usar naquele dia, como se tivessem analisado isso ali na hora, mas e se precisasse?? Achei muito estranho... Em várias situações eu gostaria de estar com eles, já que não tenho a menor prática de andar no gelo sem escorregar!

O guia nos mostrou a maneira correta de segurar o piolet, colocamos os capacetes, fomos caminhando até o teleférico e às 08:30 já estávamos a 1870m de altitude, prontos pra começar a caminhar! O frio na barriga já começou no teleférico, que é bem alto e não tem proteção nenhuma! E lá embaixo só rochas enormes e pontiagudas!! Subi sem nem respirar direito!! Rss... E lá fomos nós, sempre com o piolet na mão que estivesse voltada para a montanha, conforme o guia orientou, e eu com meu bastão na outra!

A primeira subida já começa bem empinada e é toda feita em solo rochoso. Meia hora depois o primeiro descanso e a vista vai ficando cada vez mais bonita! Agora estávamos subindo por uma mistura de rocha e gelo. Acho que nesse segundo trecho já comecei a ir mais devagar que os outros e um dos guias, o Christian, ficou comigo na “lanterninha”! Subimos mais um tanto e quase uma hora depois outra parada pra descanso e colocar as roupas impermeáveis. Agora o frio e o vento já estavam “pegando”!!

Em não costumo sentir muita fome em trilhas, mas dessa vez me forcei a comer os lanches que a agência recomendou levar e bebi muito isotônico! Levei do Brasil dois tubinhos de SUUM (http://www.suum.com.br/) e aprovei!! Muito prático por ser em pastilhas e não ter que carregar o peso da garrafinha em algumas situações, onde vc consegue água no caminho, por exemplo!!

A partir de agora a caminhada seria praticamente toda no gelo e cada vez mais inclinada!! Como estávamos mais afastados do grupo, ate aquela hora eu não sabia a real finalidade do piolet, então pedi pro Christian me explicar como usar, caso precisasse! Rs... A gente ia subindo em zig-zag, seguindo o caminho marcado pelas pegadas de tantas outras pessoas que já subiram o Villarica nessa temporada. Olhava pra baixo e via aquela “rampa” de gelo que “acabava” nas nuvens e lembrava da Stephanie (uma belga que subiu no dia anterior) me dizendo que tinha sido “muy duro” e contando do medo que ela sentiu na subida, pois ela tinha medo de altura! Eu não tive tempo de sentir medo pq estava concentrada demais em conseguir chegar lá em cima! Rss...

Um pouco antes das 11:00 hrs fizemos outra parada em umas rochas no meio do gelo. Ventava muito e tirar a luva pra bater umas fotos tinha que ser coisa rápida pra não “congelar”!! Nessa hora o Christian perguntou como eu estava me sentindo e se eu queria continuar! Já estava bem cansada, mas falei que sim, claro!! Com certeza o guia principal deve ter comentado com ele meu receio do dia anterior e ele deve ter pensado: “Lá vem encrenca!!”. rss...
Voltamos a subir e minhas pernas já estavam dando sinal de cansaço.. Eu tinha que fazer várias paradinhas de poucos segundos pra descansar a musculatura da coxa e já estava pronta pra continuar. Nessas horas eu pensava: “Isso!! Falte na academia, falte!!” rss...
A última parada foi ao meio-dia e nessa hora uma das meninas desistiu e um amigo ficou com ela nas rochas, esperando o grupo voltar pra descerem todos juntos. O Christian perguntou de novo se eu queria continuar e eu falei que sim, mas teria que ir mais devagar... Acho que ele estava torcendo pra eu desistir tbem!! rss...

Agora era a hora do trecho final e mais inclinado de todos! Olhava pra cima e via os grupos subindo lá longe... Uma p... subida, diga-se de passagem!! Rss.. Tive que guardar a câmera na mochila e “sofri” um monte a cada hora que via uma boa foto e não podia clicar... Fui subindo bem devagar, trocando o piolet de mão a cada curvinha do zig-zag e usando o bastão na outra mão pra ter mais segurança, por causa da inclinação do terreno e do gelo escorregadio. Não era a coisa mais prática a se fazer, mas eu me sentia mais segura com o bastão pq minhas pernas já estavam ficando bambas! Rs... E o Christian me apressando “sutilmente”, pq ele tinha que me deixar no topo com o grupo e descer para pegar o casal que ficou no meio do caminho!
A certa altura o gelo acabou e a parte final foi pelas rochas. Aí já posso dizer que minhas pernas estavam lá somente como meras figurantes! Rss... Os últimos metros da subida foram no piloto-automático e na vontade de chegar!! Chegando no topo (quase 13:00 hrs) cruzamos com o nosso grupo descendo! O guia principal veio me dar parabéns e eles desceram pra encontrar com o casal que desistiu. O Christian tbém me deu um abraço de parabéns e claaaaro que eu dei uma baqueadinha, mas não cheguei a “abrir a boca”, como de costume!! Kkkk... Larguei minha mochila com ele e fui lá pra perto da cratera!! Nunca me imaginei num lugar daqueles e nem como seria! Fiquei ali observando a grandiosidade daquilo tudo, o tamanho da cratera, as rochas de várias cores, algumas partes amarelas por causa do enxofre e a galera andando por toda a borda!! Como eu estava respirando pela boca, o gás ía direto na minha garganta e ardia! É muito forte o cheiro lá em cima! Não tive muito tempo pra andar, mas tirei várias fotos e curti o que pude, pois tínhamos que alcançar o grupo!

Começamos a descer e aí chegou a hora mais temida!! O ski-bunda no gelo!! O Christian colocou em mim o tal acessório de plástico pra sentar em cima (caso ele mandasse), pra ir mais rápido, mas claro que não usei nenhuma vez!! Mais rápido do que fomos seria suicídio!! Rss...
Na primeira descida ele me mostrou como sentar, com as pernas flexionadas, usar o calcanhar e o piolet para frear (cravando o cabo no gelo), se mandou canaleta abaixo e gritou pra eu vir atrás!!! Ai Jesus!! Não tem alternativa né?! Então tá!! Lá fui eu morrendo de medo, e na tentativa de diminuir a velocidade a esperta aqui usou tbem os cotovelos no gelo!! Imaginem a cor dos ditos cujos no outro dia!!! Roxos, claroo!! Rss..
As primeiras canaletas tinham uma paredinha, como um tobogã, então não tinha como sair do curso, mas as outras eram baixas e dependendo da velocidade era fácil sair e ir parar longe, o que me aconteceu algumas vezes! E eu senti muito medo! Em uma delas eu girei e fui descendo de barriga pra baixo, usando só a ponta dos pés para conseguir frear! Numa outra, que eu estava descendo junto com o guia, a gente perdeu o controle e rodou uns 360 graus e fomos descendo muito rápido e sem direção! Meus óculos de Sol encheram de neve e eu não sabia pra onde estava indo... Que sensação ruim!! Dava impressão que ia rolar montanha abaixo e cair num precipício! E em uma outra descida tbém perdemos o controle e eu e o guia perdemos os piolets... Ele achou o meu, me alcançou e me entregou, pra eu parar de escorregar, depois ele subiu um trecho da encosta atrás do piolet dele e voltou pra me “resgatar”, pois eu estava em uma situação ridícula, meio de bruço no gelo, agarrada naquele piolet, com medo de tentar levantar e continuar escorregando! Rss.. Aí ele ficou na minha frente, travou meus pés com a bota dele pra eu levantar!! Afff... Que cena...

Hoje eu até dou risada contando, mas eu passei medo mesmo... Depois conversei com vários conhecidos e amigos que já subiram o Villarica e se divertiram um monte nessa descida, como se estivessem em um parque de diversões, mas eu não! Pra não dizer que foi ruim o tempo todo, tiveram uns dois ou três trechos que a inclinação era pequena e eu pude curtir a descida e apreciar a paisagem e o Lago Villarica lá embaixo!! :)
Em algum momento eu perdi meu bastão, e como eu brinquei depois, ficou de oferenda aos “deuses da montanha”!! Rss... Quando finalmente fizemos o último trecho do ski-bunda, nosso grupo já estava lá terminando de tirar as roupas impermeáveis, etc, e fomos descendo a pé todo trecho do teleférico, num solo fofo chamado de Moraina, que são acúmulos de sedimentos vindos de cima de montanhas nevadas, glaciares, etc... Eu desci como se estivesse patinando naquela solo fofo, e foi a minha sorte pq sem bastão e num solo duro meus joelhos iam “reclamar” bastante!

Chegamos nos carros cansados e com partes da roupa molhada. Mesmo com as roupas impermeáveis não tem como não entrar um gelinho naquela descida!! Rs... Devolvemos todo o equipamento e na hora de ir embora surpresa!! Nosso carro não pegava e tivemos que esperar um tempão por uma van que nos desse carona até Pucón, aonde chegamos super cansados, mas com a sensação de missão cumprida!!
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INFOS:
Agência contratada: Natour - http://pucon.natour.cl/
Valor: 36.000 pesos chilenos (Fev/2012), incluindo todo o equipamento necessário, inclusive a bota para andar no gelo.
O que levar (recomendações da agência): 2 litros de água, 2 isotônicos, bloqueador solar (60UV), óculos de sol (400UV), 3 sanduíches, amendoim, doces e roupa térmica.


Obs. Eu havia começado a escrever esse relato quando saiu a notícia dos acidentes no Villarica, exatamente um mês depois da minha subida, e que resultaram na morte de um mexicano e do brasileiro Felipe Santos. Fiquei sem clima pra escrever, até pq eu estava contando uma coisa que foi legal demais pra mim e não combinava com a situação, mas agora que postei só quero dizer que, mesmo sendo uma caminhada sem muitas dificuldades técnicas, todo cuidado é pouco pq todos nós somos suscetíveis a acidentes e fatalidades...

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